BAKUNIN E A PRIMEIRA INTERNACIONAL

Bakunin Primeira Internacional

Esse livro foi traduzido e lançado por anarcosindicalistas brasileiros durante as comemorações do bicentenário do célebre ativista Mikhail Aleksandrovitch Bakunin

 

A idéia de fundar uma associação que agrupasse todos os trabalhadores do mundo, acima de qualquer diferença de nacionalidade, língua, raça, cultura ou religião, parece ter ocorrido pela primeira vez a Flora Tristán em 1843, singular escritora franco-peruana descendente de um vice-rei – e segundo ela, também de um imperador inca – e avó de Gauguin.

Joseph Déjacque, autor da primeira utopia anarco-comunista, L’Humanisphere, publica em 1855, em colaboração com Coeurduroy e outros, a declaração de princípios de uma associação internacional que, segundo Max Nettlau em sua obra Bakunin e a Internacional na Itália, proclama a negação absoluta de toda autoridade e de todo privilégio, o que equivale a dizer, a exigência ideal de uma sociedade sem classes e sem Estado.

“Todos estes ensaios, entretanto, fracassaram. As condições sociais e ambientais, a disparidade de critérios sem mais pontos de contato além do instrumento – uma organização internacional -, as dificuldades de deslocamento existente há um século atrás eram obstáculos difíceis de se vencer”, diz Victor Garcia (La Internacional Obrera, Madrid, 1977, p. 24)

Por ocasião da Exposição Universal um grupo de trabalhadores franceses dirige-se a Londres, onde entram em contato com os membros das Trade-Unions inglesas. Em setembro de 1864, voltam a se reunir no Saint Martin’s Hall, junto com delegados italianos, alemães e de outros países. Presidia-os Edward Beesley, bondosa e encantadora figura, então professor de história antiga da Universidade de Londres, homem radical e positivista (Isaiah Berlin, Karl Marx, Madrid, 1973, p. 220). Nesta reunião estavam os trade-unionistas socialistas-reformistas, os italianos mazzinianos e garibaldianos, os alemães sociais-democratas e marxistas e os franceses proudhonianos. Estes últimos (Tolain, Perrachon, Limousin) imprimiram seu entusiasmo proletário à reunião e forneceram o programa de sua própria organização como base da organização internacional que se estava fundando. Ainda que os anarquistas não fossem a maioria neste momento fundacional, eles souberam dotar a Associação com seu espírito, e assim a Internacional foi, desde o princípio, em que pese seus dirigentes moderados, anarquista.

É claro que, como adverte Nettlau, aqueles proudhonianos que concorreram à fundação da Associação Internacional não deixavam de ser moderados (pode-se dizer que formavam parte da direita proudhoniana), e é claro também que Marx desempenhou um papel cada vez mais importante no seio da mesma, como não deixa de reconhecê-lo com sua habitual nobreza, o próprio Bakunin, ao dizer: “Deixando de lado todas as vilanias que [Marx] vomitou contra nós, não poderíamos de nossa parte desconhecer, pelo menos eu, os grandes serviços à causa socialista desde há aproximadamente vinte e cinco anos. Indubitavelmente nos deixou a todos bem distante de si. É, além disso, um dos primeiros organizadores, se não o iniciador, da Sociedade Interacional. Em meu ponto de vista é um mérito enorme que eu reconhecerei para sempre, seja qual seja sua atitude perante nós.” (Michel Dragomanov, Correspondence de Michel Bakounine, Paris, 1896, p. 288, cit. por Victor Garcia). Mas, uma vez feito o balanço dos sucessivos congressos da Internacional, se verificará que ela foi definitivamente favorável aos anarquistas (proudhonianos + bakuninistas + antiautoritários independentes).

O primeiro deles se reuniu em Genebra, de 3 à 6 de setembro de 1866. Neste Congresso, a principal discussão foi colocada em torno da condição de trabalhador manual que deveriam possuir os delegados: os franceses sustentavam a necessidade de que assim o fosse; os ingleses, por sua vez, queriam ampliar o conceito de trabalhador aos intelectuais, e admiti-los, portanto, como delegados nos próximos congressos da Associação. Predominou a primeira tese, desde que os franceses eram, ao lado dos suíços, maioria absoluta. No entanto, os franceses eram em sua maioria proudhonianos, seja de direita (Tolain), seja de esquerda (Varlin), e entre os suíços muitos também o eram.

O segundo congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores se reuniu também na Suíça, mas desta vez em Lausanne, em 2 de setembro de 1867. Também aqui predominaram os delegados suíços e franceses e, por consequência, os proudhonianos.

O terceiro congresso tomou lugar em Bruxelas entre 6 e 13 de setembro de 1868. Neste momento é que Bakunin começa a fazer parte da Associação e a intervir diretamente em sua marcha. “Os proudhonianos seriam vencidos, como esperava Marx, mas não a seu favor, senão em favor de outra corrente, também anarquista, da qual Bakunin passaria a ser a figura mais destacada”, diz Victor Garcia (op. cit. p. 67). Na verdade, este terceiro congresso deve ser considerado, do ponto de vista do predomínio ideológico, como de transição entre o mutualismo proudhoniano e o coletivismo bakuninista. É preciso recordar, como diz Guillaume, que “desde julho de 1868 Bakunin se fez admitir como membro na seção de Genebra”.

O quarto congresso da Internacional tomou lugar na cidade de Basiléia, a partir de 6 de setembro de 1869. A delegação numericamente mais forte era a francesa, seguida de perto pela suíça. Nas diversas discussões e particularmente na que se desenvolveu em torno da propriedade da terra, os proudhonianos saíram derrotados, mas os marxistas também. A corrente predominante era agora a coletivista bakuninista. A guerra franco-prussiana tornou impossível a reunião do quinto congresso durante os anos de 1870 e 1871. Mas em 2 de setembro de 1872 logrou acontecer na cidade holandesa de Haya.

Se trata de uma reunião decisiva na história da Internacional, desde que aqui se consumará o cisma entre marxistas e bakuninistas, entre autoritários e antiautoritários, entre centralistas e federalistas. As manobras de Marx e o jogo pouco limpo do Conselho Geral de Londres dirigido por este último, fizeram com que os italianos se abstivessem de enviar delegados, que os representantes da Suíça e Espanha, dois países com grande número de filiados, se reduzissem a cinco cada um e que, por sua vez, fez com que o mesmo Conselho Geral tivesse 20 delegados, e a Alemanha, único país onde dominavam os marxistas, 9. Assim, depois de ter conseguido que se rechaçasse uma justa e razoável proposta da delegação espanhola (de evidente maioria bakuninista), Marx e seus aliados obtiveram pela primeira vez o predomínio num congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores. Esse anelado predomínio significou a destruição da mesma. O congresso resolveu ampliar os poderes do Conselho Geral, atribuindo-lhe a função de “vigiar para que em cada país se apliquem estritamente os princípios, estatutos e regulamentos” e o direito de “suspender ramos, seções, conselhos ou comitês federais e federações da Internacional até o próximo congresso”. Além disso, consagrou-se a grande aspiração de Marx e Engels, que era a organização do proletariado de cada país em um partido político, indicando como o primeiro dever das classes trabalhadoras a conquista do poder governamental.

Diz Victor Garcia: “Depois de oito anos de contínuas manobras, Marx lograva converter a Associação Internacional dos Trabalhadores em uma ferramenta para a conquista do poder. Na verdade, com tal acordo, totalmente incompatível com o espírito daqueles que fundaram a Internacional no Saint Martin’s Hall em 1864, o que fazia era desferir o golpe de misericórdia naquilo que havia sido a maior promessa do proletariado de todos os tempos” (op. cit. p. 98). O ataque de Marx “acabou com a separação de Bakunin e seus sequazes das filas da Internacional”, como diz I. Berlin (Karl Marx, p. 231). Mas também com o fim da Internacional. Conseguindo que a sede do Congresso Geral fosse trasladada à Nova York, do outro lado do oceano, Marx conseguiu finalmente sua vitória pírrica: impor-se à Bakunin custou o fim da Internacional. De fato, os acontecimentos imediatos e a história falaram em favor de Bakunin. Te m razão Cole quando assinala “que o grande debate entre Marx e Bakunin no Congresso de Haya terminou, em que pese as decisões tomadas em Haya, muito mais a favor de Bakunin do que de Marx” (cit. por Victor Garcia).

Por outro lado, as manobras turvas dos marxistas provocaram um reagrupamento de todos os antiautoritários e serviu para criar neles uma consciência mais clara de suas próprias decisões doutrinárias e de sua identidade libertária dentro do movimento proletário e do socialismo.

Bakunin, que não pôde concorrer pessoalmente ao Congresso de Haia, constituiu o polo positivo dos novos congressos que os internacionalistas antiautoritários convocaram em seguida.

O primeiro deles tomou lugar em Saint Imier, poucos dias depois de encerrado o de A Haia; ali os delegados espanhóis, somados aos italianos, franceses, russos e até alguns norte-americanos resolveram repudiar as conclusões deste último congresso e, com autêntico espírito bakuninista e antimarxista, declararam, primeiramente, “que a destruição de todo poder político é o primeiro dever do proletariado”, e logo depois, “que toda organização pretensamente provisória e revolucionária do poder político a fim trazer esta destruição não pode ser senão um engano e seria tão perigoso para o proletariado quanto todos os governos que existem hoje”.

Este congresso deve ser considerado, apesar dos historiadores não o fazerem, como o sexto congresso da Internacional. O seguinte, o sétimo, tomou lugar em Genebra, em 1873, e aqui a influência ideológica de Bakunin é tão clara como no anterior. Quando seu triunfo estava consolidado, não obstante, por motivos de saúde, Bakunin decide renunciar à Internacional e retirar-se da vida pública. Profundamente desalentado pela reação antiproletária na França, Alemanha, e em quase toda Europa, crê que a revolução e o socialismo se distanciaram indefinidamente no horizonte do tempo.

No entanto, seus seguidores não estão desalentados. Sempre à sombra de Bakunin, reúne-se o oitavo congresso da Internacional (o sétimo para a maioria dos historiadores) em Bruxelas, de 7 à 13 de setembro de 1874. Neste congresso, contudo, volta a surgir, a propósito da organização dos serviços públicos, o problema do papel do Estado na futura sociedade socialista, e, contra os bakuninistas puros, que eram sem dúvida a maioria, o delegado belga Cesar de Paepe propõe uma fórmula intermediária que supõe que o Estado conserva algumas funções pedagógicas e administrativas.

O nono (ou oitavo) congresso tomou lugar em Berna, entre 26 e 29 de outubro de 1876. Aqui o bakuninismo começa a declinar diante do alavancamento socialdemocrata, ainda sem deixar de contar com uma influência predominante. O décimo (nono) e último congresso se realizou em Verviers, Bélgica, de 6 à 8 de setembro de 1877. E aqui o socialismo antiautoritário se impôs absolutamente nas discussões e resoluções. Dos vinte delegados que concorreram não se pode dizer que havia um único que em maior ou menor medida não poderia chamar-se de bakuninista. Ali estava, com efeito, Kropotkin, González Morago, James Guillaume, Paul Brousse, Andrea Costa, etc. O Congresso resolveu, entre outras coisas, não estabelecer distinção alguma entre os partidos políticos chamados socialistas e os que não são: “todos estes partidos, sem distinção, formam, em seu conceito, uma massa reacionária, e acredita-se que é um dever combatê-los a todos”.

Todavia, o Congresso “espera que os trabalhadores que marcham nas filas destes diversos partidos, ensinados pela experiência histórica e pela propaganda revolucionária, abrirão os olhos e abandonarão a via política para adotar a do socialismo revolucionário”. Como diz M. Nettlau “esta vitória conduziu diretamente à consolidação espiritual de todos os elementos revolucionários, amantes da liberdade”. Bakunin, como se vê, se impõe até o último congresso da Primeira Internacional. E é a esta Primeira Internacional, a única autêntica, que todos os anarquistas hoje se remetem.

Ilya Eremburg, em seu discutido e muito discutível livro Espanha, República dos Trabalhadores, relata uma discussão travada num povoado andaluz em 1931 sobre a Internacional. Contra o veterinário socialista burguês, um paupérrimo camponês garante que não acredita senão na Primeira Internacional e que seu mestre é Bakunin.

Publicado em Polémica, n. 18, outubro 1985.

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Liga Estudantil Secundarista

[LES] Liga Estudantil Secundarista

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Comunicado do Comitê de Defesa da Luta Camponesa

comunicado nº1 CDLC

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A culpa é do Patrão

Morte de cinegrafista LSOC

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Fundado o primeiro Sindicato de Empregados Rurais do Paraná

SER - Porecatu

Representantes do Sindicato Oficial tentaram sem sucesso impedir a realização da Assembléia. Jovens organizaram uma barreira, “só participa da assembléia quem trabalha na roça”.

Links para as imagens:
I
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2014/01/528195.shtml

II
http://prod.midiaindependente.org/pt/blue/2014/01/528202.shtml

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Agronegócio descumpre acordo

trabalhadores aguardam pagamento há 1 ano
LSOC reunião
http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/sptv-2edicao/videos/t/edicoes/v/destilaria-nao-cumpre-acordos-trabalhistas-com-funcionarios/3058519/

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Livro resgata história da guerrilha de Porecatu

 

Símbolo da luta camponesa pela distribuição de terra no Brasil, a história da guerrilha de Porecatu, no Paraná, é resgatada no livro “Porecatu: a guerrilha que os comunistas esqueceram”, do jornalista Marcelo Oikawa.

Além de influenciar a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais, a guerrilha “motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais”.

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Após 20 anos de pesquisa, o jornalista explica como ocorreu a guerrilha de Porecatu e como se deu a relação entre posseiros de Porecatu e o Partido Comunista Brasileiro – PCB. Segundo ele, como estava na ilegalidade, o PCB tentou alcançar o poder “partindo do campo para as cidades”.

Esta decisão, menciona, veio a “calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros, o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria ‘a fagulha que iria incendiar o campo’, como diziam os dirigentes comunistas da época”.

Das 3 mil famílias que lutaram pela distribuição da terra, apenas 380 foram assentadas. Dos participantes da “chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.” conta ele, em entrevista à IHU On-Line por e-mail.

Apesar de ter lutado ao lado dos camponeses na década de 1950, integrantes do PCB e das dissidências PCdoB e PCBR evitam comentar o tema. Para o jornalista, o silêncio justifica-se porque “boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou (…). Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura”.

Marcelo Oikawa é jornalista, paulista, foi repórter dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, atuou na região norte do Paraná e foi correspondente de diversos outros veículos de comunicação.

Confira a entrevista.

De onde vem seu interesse em pesquisar a guerrilha de Porecatu?

Sempre ouvia falar da guerrilha de Porecatu, mas ninguém sabia dizer muita coisa, senão que havia sido sangrenta. Como jornalista na região, sempre que visitava Porecatu e tocava no assunto, sentia que as pessoas evitavam o assunto com muito medo. Também há o fato de que minha família era próxima da família de Manoel Jacinto Correia, um comunista que foi um dos líderes daquela resistência. Ele passou a vida criticando e lamentando que a direção do Partido Comunista tivesse impedido a negociação oferecida pelo governo do Paraná, após anos de lutas, apesar da vontade dos posseiros. Manoel considerou um grave erro a recusa em negociar.

Por que Porecatu é um exemplo típico de como se formou a propriedade da terra no Brasil?

O Brasil colônia foi ocupado por capitanias hereditárias e sesmarias sempre tratadas com muito desinteresse por seus donatários. Com a Proclamação da República, requerimentos de posse deram entrada em cartórios por todo o território nacional sem nenhuma comprovação. Em muitos casos esses requerimentos se sobrepuseram a outros dando origem a disputas. É o caso de Porecatu, com a agravante de que o próprio governo estadual chamou os posseiros para ocuparem a região e depois os considerou intrusos.

O senhor afirma que Porecatu foi a primeira Liga Camponesa do Brasil. É isso mesmo? Não foi no Nordeste que elas se originaram? Qual a origem desse nome?

Sempre se achou que a primeira Liga Camponesa do Brasil foi a Dumont, de Ribeirão Preto, criada em 1945. Mas Porecatu a precedeu, fundando as duas primeiras associações de lavradores do país. O conflito em Porecatu registrou a criação de mais de uma dezena dessas associações, já com o nome Liga Camponesa. Foram precursoras das famosas Ligas de Francisco Julião, no Nordeste.

Qual a importância de Porecatu na luta camponesa brasileira?

É a primeira luta camponesa brasileira sem o componente religioso ou messiânico como Canudos e Contestado. É o evento inaugural que vai influenciar dezenas de lutas que ocorreram no Brasil a partir de Porecatu, inclusive com a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais. Porecatu motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais. Também foi lá que se usou pela primeira vez a palavra camponês para designar o trabalhador rural sem terra, colono, arrendatário ou pequeno proprietário.

Por que o PCB decidiu se envolver nos conflitos camponeses e deslocar quadros para apoiar a luta dos posseiros?

Com o início da Guerra Fria, os partidos considerados comunistas foram colocados na ilegalidade. Com isto, no Brasil, os comunistas mudaram sua estratégia e tática, passando a considerar a via revolucionária para o poder, partindo do campo para as cidades. Esta decisão vem a calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, os jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria “a fagulha que iria incendiar o campo”, como diziam os dirigentes comunistas da época.

Os trabalhadores receberam bem e aceitaram a liderança do PCB? Como se deu a luta? Houve enfrentamentos, muitos morreram?

O PCB foi para os trabalhadores uma esperança de conquistarem finalmente os títulos de propriedade. Os conflitos, com táticas de guerrilha, se estenderam até junho de 1951, período em que os combatentes chegaram a controlar uma área de 40 quilômetros quadrados. Para se ter uma ideia da violência que imperava na região, em 1953 dois jornalistas da revista O Cruzeiro realizaram um levantamento nos cemitérios da região e descobriram que metade das covas eram ocupada por corpos de pessoas assassinadas.

A aliança operário-camponesa sugerida pelo PCB deu certo na luta em Porecatu?

Por responsabilidade do próprio PCB, a luta de Porecatu acabou fracassando. De mais de 3 mil famílias lutando pelos títulos, apenas 380 foram assentadas. E nessa chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.

O que mais lhe impressionou na pesquisa dos arquivos do DOPS e na leitura do diário de Hilário Gonçalves Pinha, um dos comandantes militares da luta armada?

Na pesquisa do DOPS, constatei que, nos 70 anos de funcionamento desse organismo policial no Paraná, Porecatu deu origem à maior quantidade de documentos policiais, mais do que o movimento dos estivadores no Porto de Paranaguá e o movimento dos ferroviários do estado. E no diário de Hilário, o que impressiona é sentir o calor dos acontecimentos e a sua descrição do confronto que causou o maior número de baixas entre posseiros, jagunços e polícia.

Quais foram as conquistas e as derrotas em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Em minha opinião, as grandes lições de Porecatu são a descoberta pelos camponeses do valor da união, do trabalho em mutirão, da importância da organização. A experiência de Porecatu vai influenciar as lutas camponesas que ocorreram em vários pontos do país e do Paraná a partir da década de 1950. E a derrota ensinou, tarde demais, que é preciso ter amplitude na tática de luta, saber avançar e saber recuar, saber exigir e saber negociar.

Como os jornais da época abordavam os conflitos em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Os jornais comunistas – haviam vários, praticamente um em cada um dos estados mais importantes – apoiavam, faziam campanhas de arrecadação de fundos e donativos. A grande imprensa da época cobria o conflito com grande alarde, mas é possível notar que agiam de acordo com seus próprios posicionamentos partidários. Na imprensa do Paraná, esse viés era escancarado. O interessante é que na maior parte do tempo esses jornais culpam seus adversários políticos pela situação em Porecatu. Somente anos mais tarde começam a chamar a atenção para a ação comunista.

Por que, em sua avaliação, dirigentes do PCB da época pouco tocavam no assunto da guerrilha de Porecatu e por quais razões, mais tarde, homens que se dividiram entre PCB, PCdoB e PCBR não falaram sobre o tema?

Essa é uma pergunta que está até hoje sem resposta. Por que se calaram? Uma boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou. É curioso notar que em 1954, em Trombos e Formoso, Goiás, o próprio PCB vai propor um acordo ao governo do Estado para solucionar os conflitos pela terra. Os dirigentes do PCB eram os mesmos. Talvez falar de Porecatu implicasse em admitir um erro importante.

Por que o senhor afirma que o PCB deliberadamente “esqueceu” de Porecatu? E, no mesmo sentido, por que a história de resistência dos posseiros em Porecatu é desconhecida para a maioria das pessoas?

Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura. Por medo, a região sepultou a história em sua memória. Os únicos registros que restaram são as ações judiciais que estão depositadas sem grandes cuidados no Fórum de Porecatu e nos arquivos do DOPS, bem como com alguns familiares de comunistas que viveram a época.

Na avaliação do senhor, o que o MST herdou das ligas camponesas?

Não tenho conhecimentos suficientes para fazer uma comparação entre o MST e a luta camponesa da época. O que eu posso fazer é relatar uma experiência que vivi recentemente: ao finalizar o livro, decidi viajar à região para procurar os cenários da guerrilha.

Tive como guia dois líderes do MST na região. Além de encontrar o que procurava, encontrei também o que não procurava: várias fazendas que, na época, tiveram greves de trabalhadores e que ainda continuam lá, com o mesmo nome. Reinvidicavam, por meio de greves, melhores condições de trabalho e um maior apoio aos posseiros. Essas fazendas hoje são assentamentos ou acampamentos do MST.

Naquela época, os trabalhadores dessas fazendas foram os primeiros prisioneiros feitos pela polícia quando ela penetrou no perímetro do território controlado pela guerrilha. Os trabalhadores de hoje que lá estão continuam fazendo história, lutando pelos mesmos sonhos de 60 anos atrás.

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[URGENTE] Acampamento Autônomo dos Professores na Secretaria da Educação

Por Liga de Defesa da Educação 26/08/2013

Os professores…logo vão precisar de água e alimentos…

Link do evento https://www.facebook.com/events/278562038952408/297700550371890/?ref=notif&notif_t=plan_mall_activity

Acampamento SEE agosto 2013 ii

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[EUA] Sacco e Vanzetti por Mumia Abu-Jamal

 

[Evento comemorativo será realizado na Biblioteca Antiautoritária Sacco e Vanzetti¹, em Santiago do Chile, nesta sexta-feira, 23 agosto.]

Já se passaram 86 anos desde a eletrocussão de dois anarquistas de origem italiana em 23 de agosto de 1927, em Massachusetts.

Ferdinando Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, foram acusados de assassinar dois homens durante um assalto à mão armada de uma fábrica de sapatos em South Braintree, Massachusetts, em 1920. Várias pessoas depuseram em vários lugares, sobre a data e hora do roubo e dos assassinatos. De acordo com estas testemunhas, Sacco estava no extremo norte de Boston, e Vanzetti, em Plymouth. Mas tais testemunhos foram em vão. Tanto o juiz quanto a imprensa destacaram o pensamento anticapitalista e anarquista dos acusados, que foi apresentado como prova não só de seu radicalismo, mas de culpa.

Houve consideráveis evidências conflitantes sobre balística e testemunhas oculares, mas todas foram irrelevantes.

Sim, é verdade que, quando presos, os dois homens deram nomes falsos, provavelmente por temer a deportação. Além disso, eles andavam armados. Ao serem pressionados no tribunal para dizer por que portavam armas, explicaram que eram anarquistas e, ao fazer isso, talvez alentaram os prejuízos do júri ainda mais.

Quando os dois homens apresentaram petições de demissão depois de condenados para conseguir um novo julgamento, como esperado, o juiz Webster Thayer disse a um professor da Universidade de Dartmouth: “Você viu o que eu fiz para aqueles bastardos anarquistas alguns dias atrás?” O que ele fez foi negar um novo julgamento.

Entre as muitas pessoas que apoiaram Sacco e Vanzetti, uma foi o professor de Direito na Universidade de Harvard, Felix Frankfurter, que mais tarde tornou-se juiz da Suprema Corte da Nação. Ele escreveu um artigo que mostrou a sua inocência, que foi publicado na revista The Atlantic.

Em seu discurso no tribunal, Vanzetti fez as seguintes observações comovedoras: “Eu fui forçado a conter as lágrimas dos meus olhos e segurar a batida do meu coração na minha garganta para não chorar diante dele. Mas o nome de Sacco vai viver nos corações das pessoas como seu. Suas leis, suas instituições e seu falso deus não são mais do que uma vaga lembrança de um passado maldito em que o homem era lobo do homem”.

Sacco e Vanzetti foram executados em 23 de agosto de 1927.

Em 1977, o governador de Massachusetts emitiu uma proclamação exonerando os dois anarquistas – 50 anos depois de sua eletrocussão.

Da nação encarcerada, sou Mumia Abu-Jamal.

O áudio para ouvir a voz de Mumia, aqui:

 http://www.prisonradio.org/media/audio/mumia/sacco-vanzetti-257-mumia-abu-jamal

[1] A Biblioteca e Centro Social Sacco e Vanzetti havia existido como okupa antes de vários membros do grupo serem presos em uma caça à anarquistas em agosto de 2010, resultando em um processo conhecido na imprensa como o “Caso Bombas”. Depois de 9 meses em uma prisão de segurança máxima, uma greve de fome de 65 dias e um julgamento que durou seis meses, foram absolvidos de todas as acusações de conspiração e associação terrorista. Em 14 de agosto passado inaugurou as novas instalações da biblioteca, onde se encontra como parte de seu acervo um livro de Mumia Abu-Jamal, ?Queremos liberdade: Uma vida com os Panteras Negras?.

agência de notícias anarquistas-ana

insônia:
uivo de lobos
nas pupilas

Cláudio Daniel

 Email:: a_n_a@riseup.net
 URL:: http://noticiasanarquistas.noblogs.org/

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O GOVERNO AUMENTA A EXPLORAÇÃO DOS PROFESSORES

LDE
O AUMENTO DA JORNADA (ACUMULO DE CARGO “O” PARA EFETIVOS) SÓ TRARÁ PREJUÍZO AOS PROFESSORES, ALUNOS E FAMÍLIAS….

PORQUE?

@ O CARGO DE CATEGORIA “O” É UM TRABALHO DE SAFRA, SÓ RECEBE DURANTE O ANO LETIVO, NÃO EXISTE PAGAMENTO NAS FÉRIAS E DIREITOS SOCIAIS

@ O PACOTE DO GOVERNO PRETENDE EXTINGUIR O TICKET DOS PROFESSORES EFETIVOS – “JÁ GANHAM MUITO DINHEIRO ENTÃO CORTA O TICKET”

@ SÓ VAI AUMENTAR A VIOLÊNCIA NA ESCOLA – PROFESSORES ESTRESSADOS E SURTANDO EM SALA DE AULA

@ SALAS DE AULAS ESTÃO LOTADAS O GOVERNO NÃO CONSTRÓI NOVAS UNIDADES

@ OS ALUNOS SERÃO PREJUDICADOS POIS O PROFESSOR APLICARÁ UMA AULA “MEIA BOCA”

@ ALUNOS COM DIFICULDADE TERÃO UM PROFESSOR DESGASTADO PELA JORNADA EXCESSIVA

@ A ATITUDE DO GOVERNO FOI TOMADA PARA ISOLAR OS COMBATIVOS CATEGORIA “O” QUE JÁ SÃO 50.000, EM SUA AMPLA MAIORIA JOVENS – E FORAM LINHA DE FRENTE NA GREVE – A PROPOSTA É PARA PERSEGUIR O PROFESSOR CATEGORIA “O”

@ EM BREVE OS PROFESSORES EXAUSTOS IRÃO SE REBELAR CONTRA ESSE GOVERNO, JUNTO COM OS ALUNOS, FUNCIONÁRIOS E PROFESSORES – O GOVERNO ESTÁ DANDO UM TIRO NO PÉ, ABRINDO SUA PRÓPRIA COVA.

“É A VOLTA DO CIPÓ DE AROEIRA NO LOMBO DE QUEM MANDOU DÁ!” GERALDO VANDRÉ

LIGA DE DEFESA DA EDUCAÇÃO – VERMELHO E NEGRO
MOVIMENTO LIBERTÁRIO PELA EDUCAÇÃO – MPE

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